domingo, 8 de março de 2009

O brilho da sensibilidade!

Já algumas vezes pensei que seria melhor ser uma pedra tão dura como uma rocha circundante ao mar com uma grandeza inconfundível, que apenas se deixa lascar com o passar dos anos. Não sou… nem grande… nem dura.
A minha sensibilidade ajuda-me a ser tocada por uma frase, por um gesto, por um sorriso e, principalmente, por um olhar. Emocionar-me não é difícil. Deixar-me envolver por histórias, por verdades e, essencialmente, por sentimentos é tão bom como comer um crepe com chocolate ao olhar para o pôr-do-sol num dia de Outono. Claro está, que quando nos envolvemos também sofremos, mas quando não o fazemos, esquecemo-nos de dar ao outro e olhamos para um umbigo que nos pertence e não consegue nunca chegar tão perto de alguém como esse alguém tanto merece.
Amar as pessoas, amar o outro, ver as qualidades do ser humano sempre num primeiro plano é, genuinamente, colocar a sensibilidade ao serviço das pessoas e utilizá-la para fazermos nascer sorrisos.
Ser sensível é, na minha opinião, ser corajoso. A coragem é uma virtude ou um defeito? Por vezes a coragem pode bloquear-nos no nosso Eu, naquilo que queremos para nós e leva-nos a sensibilidade, mas tal como as moedas também nesta perspectiva existe um outro lado. Ser sensível exige uma coragem desmedida. Cada gesto pode levar-nos ao abismo e saber lidar com a nossa própria sensibilidade exige um trabalho interior e exterior de desbloqueamento e avanço para um outro nível.
Recentemente os meus olhos brilharam. Talvez tenha conseguido sentir o brilho de alguém que me tocou, que interiorizei, reflecti e elaborei. E qual foi o resultado final? O brilho dos meus olhos iluminou o meu dia de uma forma quase natural, sem qualquer esforço.
Contudo os meus olhos também têm momentos mais baços. São o reflexo de um sentir cinzento, que reflicto, senti e elaboro. Por vezes não consigo sorrir. O sofrimento do próximo é tão grande que os dias tornam-se cinzentos. É o que penso até ao momento em que percebo que o meu Eu não vai poder trazer nada de novo ao outro se me deixar contagiar pela sua falta de brilho.
Há olhos no Mundo que brilham para me alcançar e de tanto brilharem me tocam pela sua ingenuidade e sensibilidade. E outros há, que de tão cinzentos me tocam no sofrimento e de repente vivo de uma forma intensa a dor do peito do outro.
A sensibilidade é isto mesmo. É ter coragem para sentir e viver o outro dentro de nós. Hoje só queria poder viver dentro de mim alguém com uns olhos brilhantes e iluminados, mesmo que esse alguém não tivesse consciência nenhuma do seu próprio brilho.

Afinal a vida é feita de momentos mas para os conseguirmos viver temos de deixar que experimentem as diferentes chaves de um cofre, por vezes fechado, mas jamais fechado para sempre. E depois????Depois, quando o cofre está aberto é possível guardar coisas novas dentro dele...ainda bem que há pessoas que insistem em não desistir de abrir cofres à primeira tentativa falhada. Ainda bem que há pessoas com poderes desbloqueadores, pessoas que através de um gesto, de uma frase ou de uma partilha nos trazem de volta à vida tal como é...nua, crua e dura mas saborosa!

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