De regresso à escrita quero partilhar uma viagem de Ponta Delgada à Povoação. Depois de almoço, ainda não tinha iniciado a digestão já as curvas me embrulhavam o estômago. No vai e vem de mudanças percebi que a arte de ser habitante de uma ilha implica uma enorme capacidade de improviso e compreensão. Fazendo um balanço de 7 meses tenho algumas opiniões acerca da forma como as pessoas são quase incapazes de perspectivar e antecipar consequências. Os dias são vividos de forma tão intensa que talvez todos se deitem "como se não houvesse amanhã". O amanhã dos ilhéus é qualquer coisa de imprevisível, quase impensável, é uma entidade misteriosa que aparece vinda do além, como se de D. Sebastião se tratasse, cada vez que amanhece. Esta forma de vida, primeiro estranha-se, depois logo se entranha!Trata-se de um cenário peculiar nos primeiros meses, principalmente para quem vem do interior e só via o mar nas excursões da época balnear uma vez por ano.
Agora que aprendi a compreender o improviso custa-me a planear...mas quem se haveria de lembrar de comprar viagens de avião para o Natal em pleno Agosto?São tantas as vezes que os pensamentos dicotómicos me invadem que, se não soubesse, diria que estados esquizofrénicos não são assim tão invulgares em mim...
Quando cheguei ao destino estava capaz de deixar lá o almoço, mas num instante percebi que a capacidade de cada um de nós tem de compreender o outro poderá ser a melhor ferramenta de crescimento interior e pessoal. Compreendi que ser flexivel é melhor que ser bonito... e mais, ontem compreendi que a amizade assente na sinceridade e na capacidade de escuta é das armas mais fortes contra o passar do tempo!Não sou lá muito organizada mas talvez haja alguém que perceba esta mensagem!
Na adolescencia nem sempre é fácil dizer o que se pensa de forma directa. Quantas vezes me socorri de artimanhas para levar a água ao meu moinho?Ainda bem que existe a compreensão e a amizade, assim posso fazer um hino e prestar homenagem a todos quantos me deram uma segunda oportunidade, aquela que me permitiu crescer, reconhecer erros e pedir desculpa, mostrando a mesma pessoa com muito mais capacidade de discernimento. O mote foi uma viagem física, mas a viagem espiritual desde os 15 anos levou-me a escrever-te estas linhas!
Fica aqui um obrigada pela tua capacidade de compreender, perdoar e continuar a gostar. Será que a cidade mais bonita do continente é aquela que dizias ou o teu coração está, ele sim, repleto de beleza?