quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Numa viagem...

De regresso à escrita quero partilhar uma viagem de Ponta Delgada à Povoação. Depois de almoço, ainda não tinha iniciado a digestão já as curvas me embrulhavam o estômago. No vai e vem de mudanças percebi que a arte de ser habitante de uma ilha implica uma enorme capacidade de improviso e compreensão. Fazendo um balanço de 7 meses tenho algumas opiniões acerca da forma como as pessoas são quase incapazes de perspectivar e antecipar consequências. Os dias são vividos de forma tão intensa que talvez todos se deitem "como se não houvesse amanhã". O amanhã dos ilhéus é qualquer coisa de imprevisível, quase impensável, é uma entidade misteriosa que aparece vinda do além, como se de D. Sebastião se tratasse, cada vez que amanhece. Esta forma de vida, primeiro estranha-se, depois logo se entranha!Trata-se de um cenário peculiar nos primeiros meses, principalmente para quem vem do interior e só via o mar nas excursões da época balnear uma vez por ano.
Agora que aprendi a compreender o improviso custa-me a planear...mas quem se haveria de lembrar de comprar viagens de avião para o Natal em pleno Agosto?São tantas as vezes que os pensamentos dicotómicos me invadem que, se não soubesse, diria que estados esquizofrénicos não são assim tão invulgares em mim...
Quando cheguei ao destino estava capaz de deixar lá o almoço, mas num instante percebi que a capacidade de cada um de nós tem de compreender o outro poderá ser a melhor ferramenta de crescimento interior e pessoal. Compreendi que ser flexivel é melhor que ser bonito... e mais, ontem compreendi que a amizade assente na sinceridade e na capacidade de escuta é das armas mais fortes contra o passar do tempo!Não sou lá muito organizada mas talvez haja alguém que perceba esta mensagem!
Na adolescencia nem sempre é fácil dizer o que se pensa de forma directa. Quantas vezes me socorri de artimanhas para levar a água ao meu moinho?Ainda bem que existe a compreensão e a amizade, assim posso fazer um hino e prestar homenagem a todos quantos me deram uma segunda oportunidade, aquela que me permitiu crescer, reconhecer erros e pedir desculpa, mostrando a mesma pessoa com muito mais capacidade de discernimento. O mote foi uma viagem física, mas a viagem espiritual desde os 15 anos levou-me a escrever-te estas linhas!
Fica aqui um obrigada pela tua capacidade de compreender, perdoar e continuar a gostar. Será que a cidade mais bonita do continente é aquela que dizias ou o teu coração está, ele sim, repleto de beleza?

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Deixar para lá!


Quantas vezes no nosso dia-a-dia dizemos a frase "deixa para lá!" ou frases sinónimas?

Quantas vezes, apesar de não a dizermos, fazemos gestos e nos comportamos ou nada fazemos, que em tudo se assemelha a um "deixa para lá!" frequente?
E quantas vezes pensamos o que sente o interveniente directo da nossa acção ou melhor da nossa não-acção?
Assumo hoje aqui que faço isto inúmeras vezes, que me esqueço do outro; que deixo para segundo, terceiro ou quarto plano gente que aprecio, de quem gosto, com quem quero poder estar. Será que anda meio mundo triste com outro meio?
Quantos de nós já sofremos na pele um "quero lá saber de ti" ou um "deixa para lá"? Quantos são aqueles que nunca foram rejeitados?Será que os há?
Já sofri na pele algumas rejeições mas, sem dúvida, que também já rejeitei, já abandonei e já fiz sofrer. O ciclo que é a vida presta-se a uma circularidade sem fim, como se a vida nos estivesse sempre a pôr à prova...Fizeste?Agora sofrerás também!
De repente apercebo-me que esta minha versão da vida me estanca num enredo do qual não sairei se não pegar na ponta do novelo e não o tentar desenrolar! A culpa é da ilha...será mesmo?Convictamente digo há cerca de 6 meses que estou zangada com a ilha porque a culpo, afinal é muito mais fácil sacudir a água do nosso capote e fazer chover literalmente noutra praia. Talvez eu não queira sair deste ciclo vicioso ou mesmo virtuoso porque enganar os outros é reprovável, mas enganarmo-nos é uma virtude invejável, fruto de mentes sentimentais mas enfadonhamente pensativas!

Credo, que confusão!
Perdi o fio à meada e deste novelo só se aproveitam algumas ideias: todos já fomos sujeitos, mas também complementos directos dos verbos abandonar e rejeitar, da expressão "deixa para lá" e dos novelos que mentes criativas enrolam à volta da nossa cabeça.
A minha ideia inicial era reflectir acerca da dor que pode sentir alguém que foi abandonado, mas depois pensei como será viver com a culpa de um dia ter deixado alguém para trás e de repente a fuga de pensamentos invadiu-me e deixei de pensar e apenas senti. Desculpem!
Desabafos.........

domingo, 19 de outubro de 2008

12ª oportunidade...

Passar os dias a reflectir, a racionalizar e a transferir sentimentos para o lado de cá do cérebro, aquele que nos impede de sentir e nos deixa sempre mais tristes...Afinal qual o lado bom destes momentos sem sentido?Não perceber a existência humana é questionar sem parar o funcionamento da nossa mente?Queria poder ter um botão (push the button), aquele que depois de pressionado me permitia ir mais além, me deixava fazer sem perguntar se estava bem feito, aquele que dava largas à imaginação, me deixava livre e solta...Não sou uma louca controlada, sou uma insana controlada à força por uma mente retrógrada que por defeito de fabrico e de formação chegou ao cúmulo de quer fazer aquilo que não se permite fazer! As ideias, as vontades, os desejos e incrivelmente os sentimentos ganham sentidos proibidos constantes impostos por um código, quase semelhante ao da estrada, que todos conhecem mas poucos cumprem. Eu cumpro, não o da estrada, mas aquele que me limita e me organiza. Os sentidos proibidos da minha mente deixam-me quase louca: faço, não faço; vou, não vou; sinto, não posso sentir; quero, não posso querer...Era preferível um sinal de rua sem saída que estes constantes sentir é proibido que me imponho de uma forma ditatorial!Sou imensamente castradora comigo própria!Os meus momentos de equilíbrio são tão transitórios...Crio logo, de novo surgem...novos problemas, novas incertezas e consequentemente novas contradições.
A minha existência tem em si a dúvida e o seu principal sinal são os contínuos processos de agitação e transformação...
Vale a pena pensar que depois desta tomada de consciência irei conseguir dar-me uma 2ª oportunidade, talvez uma 12ª oportunidade, pois todos nós temos o dever de errar, mas mais que isso, temos o dever de tentar novamente, de fazer diferente, de poder olhar para trás e reescrever uma história que é a nossa!
Posso deixar parágrafos incompletos e voltar mais tarde a olhar para eles numa nova perspectiva, ensaiando novas frases, novas ideias, novas acções. E se nada mudou?Pelo menos eu tentei, tentei mudar o rumo do parágrafo, tentei e tive uma 12ªoportunidade.
Afinal fazer diferente é tão difícil quanto dar novas oportunidades a nós próprios, mas também aos outros!

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

A arte de ser coerente

Hoje passei o dia em confronto directo com o meu Eu...Que dia extenuante!Dúvidas, questões e compreensões de realidades!Credo...às vezes é quase preferível não pensar.
Coerência significa, numa busca rápida pelo dicionário, ligação, conexão, de um conjunto de ideias ou de factos, formando um todo lógico. Hoje perguntei-me se não será muito mais do que isto.
A coerência parece-me uma entidade utópica! Ser coerente é muito mais do que formar um todo lógico, é conseguir manter no mesmo nível pensamentos, sentimentos e comportamentos, é conseguir ser ontem, hoje e amanhã o mesmo ser humano. Claro que não estou defendendo o não crescimento interior, isso fará sempre parte da natureza humana, mas crescer não aplica mudança quantitativa e sim qualitativa.
Será que a sociedade se esqueceu que a coerência é uma das virtudes mais importantes?A falta desta virtude leva, sem dúvida, à descrença. Atravessamos uma crise económica, mas a meu ver a crise dos valores trará a longo prazo consequências muito mais devastadoras.
Para mim a arte de ser coerente implica duas batalhas diferentes, ou seja, conseguir diariamente, em todos os momentos das 24 horas, manter o meu Eu em uníssono com aquilo que penso, sinto e faço, mas também conseguir dizer uma coisa hoje e fazer amanhã precisamente aquilo que vai de encontro a essa coisa e não o seu contrário!Tarefa árdua...
E quantas vezes a sociedade, para não especificar nada pois não quero levar estas ideias para o campo pessoal, nos exige que nos comportemos de uma maneira, quando na realidade pensamos e sentimos o seu inverso????
Talvez seja necessário atribuir a este encanto, a esta capacidade, a esta virtude, um número, tal como atribuímos ao cinema o número 7 das artes.
Parece que ser coerente é tão artístico e espectacular quanto realizar e produzir um filme!

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Coragem e dualidade!

No meio de um serão sem saber o que ler resolvi comprometer-me com a escrita. Afinal adoro partilhar pensamentos mas tenho sempre tanto medo de me comprometer. Não queria criar um blogue que me obrigasse a escrever todos os dias, algo que se tornasse uma obrigação, ou seja, não queria, nem quero um compromisso...Finalmente ganhei coragem e hoje, dia 13 de Outubro, numa dualidade tremenda resolvi criar um espaço que será livre. Nada prometo, nem quero que esperem nada de mim, ou melhor, dos meus pensamentos! Aguardem, apenas uma escrita pura, inocente, honesta, sincera e muitas vezes brutificada pelos sentimentos...
Inauguro hoje o meu cantinho